Noites de verão na capital das praias
 



Contos

Noites de verão na capital das praias

Ney Porto Alegre


"Temos dois lados pois temos frente e verso
Me queira inteiro assim te imploro e peço
Sou mais que o avesso, sou seu fogo seu forro seu ferro
E eu te engulo"
Nando Reis


A secretária do chefe sempre me sorri, e vez por outra me dá uma barra de chocolate. Não diz ao Ernesto, pede. Em outras me dá um sonho. Um sanduíche. E sempre pede para não dizer a alguém. Dinheiro nunca me deu, mas a vi receber de todos eles.

Minha mesa, no escritório, é menor do que as demais, mas fica numa posição em que, ao olhar para a frente, vejo suas belas pernas, bronzeadas pelo calor do verão e envoltas nos curtos panos de suas minissaias coloridas.

Os ventiladores são ligados no máximo e o barulho que produzem faz com que as falas tenham de ser aos gritos.

- Ney!

Ela me chama e entrega papéis para levar ao Centro. É minha função, quando não estou desocupado lendo livros ou fazendo desenhos desconexos. Pela manhã e pela tarde, também compro o lanche da galera no bar interno ou em uma padaria.

Deixo o escritório, no Gasômetro, e me dirijo a pé ao centro da cidade. No fliperama, na Rua da Praia próximo ao Rib`s, encontro o Filipo. Ele trabalha ali perto e passa a maior parte do tempo nesses locais. Eu não sabia de onde ele tirava o dinheiro para isso, mas descobri naquele fim de semana.

Vamos à praia? Ele disse. Não tenho um puto, respondi. De carona, ora. E por lá? Dá-se um jeito. E fomos. Assim, sem rumo certo. Com a roupa do corpo, nos dirigimos ao entroncamento da freeway com a Assis Brasil, e lá metemos o dedão.

Foi rápido. Um carro bacana parou. Logo vi que os dois se conheciam e estranhei o rumo da prosa que mantinham. Percebi que a mão do motorista deslizava entre as pernas do Filipo. Preferi curtir a viagem pela janela e me desliguei do que acontecia nos bancos da frente.

Era uma sexta-feira e ventava muito.

Naquela noite dormimos na rodoviária de Tramandaí. Apesar de estarmos no verão passamos muito frio, mas o Filipo garantiu que na noite seguinte dormiríamos bem. Um conhecido dele tinha casa na cidade e iria nos abrigar.

De fato, após um dia de muitos banhos junto à plataforma, na noite de sábado, estávamos abrigados. Eu estava prestes a dormir quando ouvi a conversa dos dois. Eles dormiam juntos, na mesma cama, e eu em um colchão no mesmo quarto.

Filipo dizia a ele que não queria transar e ele insistia. Depois perguntou por mim. Filipo disse que eu não. Aí ele perguntou se eu só fazia com o Filipo. Perdi o sono e não dormi mais. Também perdemos o local para dormir e durante o dia eu perdi o Filipo, que sumiu.

Era perto das dez da noite. Eu já estava desacorçoado, olhando os bancos e marquises da Emancipação e pensando onde dormir. Foi quando um Puma GTS, vermelho e conversível, buzinou. Era o amigo do Filipo, onde dormimos na noite anterior. Ele sorriu. Depois me pagou um Xis gigante com Coca-Cola e fomos para a sua casa.

Ficamos olhando televisão e bebendo vinho. Depois ele tomou um banho, me deu uma toalha e eu tomei um também. Ao arrumar a cama ele falou que hoje eu não precisava dormir no chão.

Lá pelas duas da madrugada eu senti suas mãos acariciando minha cintura. Sem nada falar ele me conduziu a ficar de lado, olhando para a parede, e foi descendo sua língua pelas minhas costas. Eu não reagi e recebi meu primeiro beijo grego. Foi incrível e, antes que eu ejaculasse, ele me virou de frente e sorveu com gosto o líquido do meu prazer.

Ao amanhecer, após o café, o amigo do Filipo me liberou para curtir o dia na praia, e me deu grana para o almoço. Combinamos de nos encontrar na Emancipação, lá pelas dezenove horas. Ele apareceu com seu sorriso pontual e seu belo carro, onde entrei de um salto, sem abrir a porta. Demos algumas voltas pela capital das praias e, por fim, jantamos sanduíche aberto na Avenida da Igreja.

Novamente, na madrugada, ele começou a me fazer deliciosas carícias, só que dessa vez não me virou de frente. Com as mãos em minha cintura me conduziu a ficar de quatro. Encostei o rosto no travesseiro e senti a penetração leve e prazerosa. Fiquei pensando nas pernas da secretária. Nas histórias que os colegas contavam nos churrascos da firma, depois de tomar umas cervejas, e só então fui invadido por uma explosão de intenso prazer, enquanto algumas lágrimas umedeciam a fronha do travesseiro.


Ney Porto Alegre participa do Curso Online de Formação de Escritores.

 

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